O segredo dos blogs
- Bianca Dilly
- 1 de jun. de 2017
- 4 min de leitura

Migrando das folhas de carta decoradas para o papel em branco virtual, a primeira experiência com blogs, para muitos, remete àquelas aulas de informática do ensino fundamental. Lá, nosso desafio era criar os diários pessoais. Com uma disciplina militar, diariamente registrávamos, principalmente em texto, mas também com fotos desajeitadas (não tínhamos nem a agilidade para tirar a data em vermelho do canto da foto!), todo e qualquer fato minimamente interessante que tivesse ocorrido conosco naquele período. E o melhor é que nos sentíamos importantes, como se aquela nossa informação corriqueira fosse de relevância para quem estivesse do outro lado da tela.
Agora, se pararmos para analisar, perceberemos que essa época, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, não trata do início dos blogs. A palavra “blog” até surgiu nesse período, algo relativamente recente se considerarmos a história da internet (sim! A mãe da internet é lá dos anos 60!!), contudo, muito antes de começarmos a usar esse termo, o formato já existia.
Formado em Jornalismo e Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo, o comunicador Marcelo Collar tem domínio para falar sobre o assunto. Desde 2001, Collar tem contato com blogs e ferramentas similares. Profissionalmente, trabalha com jornalismo online desde 2005. Hoje o jornalista é editor do Bombô, marca de conteúdo jovem do Grupo Sinos, onde também produz vídeos para as revistas Like, Lançamentos, para o jornal Exclusivo e para o setor de eventos.

Collar explica que em meados dos anos 70 já tínhamos uma prévia dos blogs.
“Um exemplo são os BBS's (Bulletin Board Systems). Eram servidores que permitiam que vários usuários se conectassem, compartilhassem dados, lessem notícias e – claro – publicassem mensagens. Percebo que com o tempo e a popularização da internet, os blogs foram chegando ao mainstream, nesse caso servindo principalmente – mas não exclusivamente – como espaços de opinião e divulgação de conteúdo ligados a veículos com um alcance maior”, pontua.
Blog como profissão: o sucesso do Depois dos Quinze
Com o passar do tempo, os blogs foram conquistando cada vez mais adeptos. Alguns motivos claros são o baixo custo e a acessibilidade da ferramenta. “O blog tem a maioria das funcionalidades de um site, mas sem a necessidade de um grande trabalho com criação, design e programação. Temos muitas plataformas que fazem tudo isso pra gente de graça”, acrescenta Collar.
Assim, muitas pessoas começaram a ver nesse formato uma oportunidade de se profissionalizar. Só que essa profissionalização não era ligada a empresas, e sim uma atitude empreendedora individual. Surgem, então, os blogueiros.
Um dos casos brasileiros de maior sucesso na área é o da mineira Bruna Vieira. Em 2008, Bruna criou o blog Depois dos Quinze, que hoje já soma mais de 130 milhões de visitas. No seu surgimento, o objetivo da jovem, com 22 anos hoje, era uma forma de se expressar, em um local onde sua timidez e o bullying sofrido na escola não a impedissem. Atualmente, o Depois dos Quinze é uma referência para milhares de adolescentes brasileiras sobre temas como comportamento, moda, beleza, livros, viagens, fotografia e decoração.

Em entrevista à jornalista Marília Dolce, Bruna contou um pouco mais desse mundo tão presente em sua vida.
“O blog me ajudou a superar alguns complexos e entender que eu não era a única adolescente com o coração partido no mundo. Através da escrita descobri um novo universo e ele acabou virando meu trabalho. Gosto muito do blog, que é minha principal fonte de renda. Com ele, tenho um contato mais direto com as leitoras”, salienta.
Fim dos blogs?
Estando há tanto tempo no mercado digital, podemos parar para pensar como os blogs ainda sobrevivem. Só o de Bruna está próximo de completar 10 anos. Pelo espaço virtual ser um ambiente que continuamente está em transformação, já vimos a ascensão e queda de redes sociais como o Fotolog, Orkut, Messenger e parece que o próximo da lista é o nosso querido Snapchat.
Qual é o futuro dos blogs? Eles permanecerão se reinventando ou o fim também está próximo?
Collar já tem sua opinião:
“Enquanto houver quem leia, haverá quem escreva. Não vejo fim nos blogs, assim como não vejo o fim do texto na internet. E novamente, a evolução tecnológica dá pistas do que pode ocorrer: hoje, analisando o público jovem, percebemos um interesse muito maior por vídeos do que por texto. O texto, no entanto, não é deixado totalmente de lado. Conteúdos opinativos são bastante lidos, compartilhados e produzidos. E esse tipo de material é o DNA do blog”, destaca.
Bruna também está aproveitando todas as chances momentâneas que estão surgindo. Mas isso não quer dizer que ela não pense no amanhã.
“Tenho plena consciência de que preciso estudar mais e fazer faculdade, se quiser continuar nessa área. Agora, estou conciliando tudo, agarrando tudo o que aparece porque tem oportunidades que eu não sei se aparecerão outras vezes. Estou me ocupando com o meu sonho”, relata.

Dicas para blogs atraentes
Se eles vão continuar existindo, como é possível sustentar um blog atraente e que se destaque em meio ao universo oceânico de informações da web?
O jornalista Collar tem algumas ideias.
“O segredo, para mim, é saber se manter atual e relevante no meio desse bombardeio de conteúdo que nos atinge a cada dia. Isso vem com uma boa capacidade de análise, síntese, clareza, objetividade e claro, um bom estilo no texto”, fundamenta.
Para ficar por dentro de mais dicas, ouça o podcast gravado com Collar.
Comments